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PREFIRO SER UM PÁSSARO

Falaremos sobre aquelas passagens que acontecem em nossa vida e que, no fundo, sempre nos trazem grandes lições.

Certo dia, após um longo dia de trabalho, um episódio marcou-me profundamente. Como de costume, antes de sair, abri minha correspondência eletrônica e recebi um e-mail de uma grande amiga com o título “Verdade sobre o silêncio”.

O texto retratava a situação de alguém muito poderoso comparado a um lobo. Dizia que os lobos não gritam, têm força e o poder porque observam em silêncio. Somente os poderosos poderiam agir como lobos. A história tratava o lobo com características importantes para um grande líder e demonstrava que o silêncio é aliado à vitória, e quem grita se unifica à derrota.

O e-mail orientava também a olhar, sorrir e silenciar, e dizia que não devemos responder a todos os ataques que, sendo lobo, você não seria obrigado a atender a todos os chamados. Segundo o texto, falar é uma escolha e não uma exigência. Um trecho aconselhava: “Durante os próximos sete anos, responda em silêncio quando for necessário”.

Refletindo sobre isso, respondi ao e-mail agradecendo a esta grande amiga e afirmando que não conseguiria silenciar e observar calada diante de tanta maldade. Um lobo silencia porque não tem amigos. Age quieto, anda no escuro e vive solitariamente, sempre à procura de uma nova presa. Pelo silêncio, já calei minha alma e meu coração e percebi que ninguém se transforma sem assumir o que é.

Prefiro ser como um pássaro, que voa longe, mas sempre acompanhado. Voa com liberdade e sempre encontra um lugar para pousar. O pássaro voa distribuindo sonhos, sempre cercado de amigos. Voa porque vive, fala, grita, sorri... E morre com a consciência de que transformou olhares em todos os lugares por onde passou, pois foi ouvido. Este é o verdadeiro poderoso. Suavemente, e sem ferir, transforma.

Prefiro ser como um pássaro. E é isto que desejo a todos que me acompanham: que voem com liberdade, que distribuam e concretizem sonhos, que acreditem que é possível fazermos um mundo melhor e que saibam que, agindo assim, sempre teremos um lugar tranquilo onde pousar.

Priscilla Maria Bonini Ribeiro – Texto do livro “Entre Letras e Linhas”, de minha autoria, editado pela Editora Comunnicar
 

FLORES E MÃOS TRISTES

Tentei durante uma noite convencer um amigo sobre a necessidade de cada um de nós escrevermos nossa responsabilidade social. No meio da conversa, às três da madrugada, um menino de sete anos vendia flores. Após sua saída, olhei bem nos olhos desse amigo e disse: “que diferença esta criança tem em relação ao seu filho?”.
Meu amigo, surpreso, argumentou coisas absurdas, ao ponto de dizer se não seria culpa dos pais da criança a colocarem naquela situação.
Firmei meus olhos, indignada, e respondi: “nem ele é culpado. Que culpa esta criança teve?”. Como ele não conseguia dizer qual a diferença, eu tomei a frente e respondi: “esta criança teve seus sonhos roubados pela vida, sua infância violentada em cada minuto e suas expectativas de um mundo melhor frustradas, pois, como você, a maioria das pessoas se nega a pensar e agir com responsabilidade social. Esta criança estava realmente ali às três da madrugada com uma única expectativa de futuro: ter o que comer após vender algumas flores. Esta criança estava ali a olhos nus, coração triste e com a face que raramente exercita os movimentos de um sorriso. Esta criança poderia muito bem ser seu filho, que sabe pouco de sofrimento e entende a palavra amor; mas, sem nenhuma culpa, ela está na rua esperando não só vender as rosas, mas esperando o que a vida talvez não possa lhe dar”.
Meu amigo olhou nos meus olhos e me disse: “sozinho não posso fazer nada. Comprar uma rosa não resolve o problema. Não posso lutar contra a realidade”.
Sem titubear, respondi: “você não resolve o problema da realidade, mas pode torná-la menos dura. Com pequenos gestos, um olhar carinhoso, você pode trazer esperança àquela criança que todas as madrugadas, para muitos, é confundida com uma figura normal da realidade. Nem precisa compra a rosa, se isso para você é errado, mas o convide para sentar, comer alguma coisa. Ganhe sua noite tentando arrancar um sorriso dessa criança e fazer brotar em seus olhos a esperança”.
Responsabilidade social é muito mais do que isto, é trabalhar seriamente políticas públicas contra desemprego, fome e violência.
Certamente, esta criança nunca mais vai esquecer essa noite, e uma nova expectativa vai surgir na vida dela. Além de vender rosas para comer, ela vai esperar encontrar alguém que se preocupe com ela, num mundo onde a maioria já a trata como figura de uma realidade. 

Priscilla Maria Bonini Ribeiro –  texto do livro “Entre Letras e Linha”, de minha autoria, editado pela Editora Comunnicar

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