sexta-feira, 16 de novembro de 2007

POBRE JOVEM BRASIL


(Artigo publicado em novembro/2007)


O dia parecia igual aos outros. Ao acordar, comecei minha leitura matinal, mas algumas questões pareciam não sair de minha mente. Quantas pessoas falam ser o que não são? Quantas pessoas vivem sonhos que não são seus? Quantas pessoas reproduzem e assimilam mazelas de nossa sociedade? Quantas pessoas confudem o “ter” com o “ser”? 
 Parecemos viver numa sociedade fundamentada no ¨ter¨, nas aparências e no status que o dinheiro pode oferecer. Assistimos as pessoas consumindo nos shoppings, dirigindo seus carros na solidão dos vidros fumês, e em raros momentos nos perguntamos se elas são felizes.
Ao tentar continuar minha leitura, mais uma informação reforçou minhas reflexões. O IBGE divulgou em sua última síntese de Indicadores Sociais que 46% dos jovens brasileiros vivem na pobreza, e não vi ninguém questionando a gravidade deste dado. Parecia ser natural, como muitas outras situações que a rotina nos faz naturalizar.
Estamos falando de seres humanos de 0 a 17 anos que estão começando a conhecer a vida, a construir sua identidade e que deveriam ser amparados tanto do ponto de vista socioeconômico como afetivo. Estes jovens deveriam estar em famílias cuja convivência os entregassem ao mundo prontos para desvendá-lo com criatividade e esperança. Eles deveriam conhecer o belo, o bom, a poesia, a música a literatura. Mas, ao contrário, conhecem as agruras da vida já no nascedouro, e tragados pela sociedade do ¨ter¨.
Sabemos como é difícil uma família assumir as responsabilidades da criação de filhos quando a violência da fome, da falta de moradia, da insegurança estão presentes à mesa, no dia-a-dia. Sabemos também como hoje as escolas têm dificuldade de dialogar com estes jovens e dar sentido à prática educacional como ferramenta de superação desta realidade. O que resta então a estes 46% de brasileiros pobres?
Resta a eles que nós, todos nós, tenhamos coragem de assumir um pacto pela juventude brasileira e construir uma sociedade fundamentada no ¨ser¨, que nos envolvamos com seus problemas, que visitemos suas escolas, que não os deixemos nas mãos da indústria das drogas, a começar pelas lícitas, que entram pela porta da frente das nossas casas.
O poder público precisa rever suas prioridades de investimentos e implementar políticas voltadas ao jovem, dando-lhe oportunidade de acesso aos bens culturais e, acima de tudo, promover os valores culturais que são próprios da juventude. A exemplo da música do grupo Titãs, o jovem não quer só comida, ele quer comida, diversão e arte. O jovem quer lazer, o jovem quer amar... O jovem quer a paz!!! Acredito nisto pelo contato que tenho com centenas de jovens que frequentam nossos projetos sociais na Unaerp.
Somente os jovens podem experimentar outra realidade. Somente pessoas movidas por sonhos e idealismo podem conhecer, mesmo que no campo das ideias, um outro mundo. E isto sempre foi missão histórica da juventude e precisamos enxergar o poder transformador dessa parcela da população, que se revela através da sua música, de suas gravuras, de suas tribos. Quem acredita que o “ser” é mais verdadeiro que o “ter”, com certeza está do lado destes 46% de jovens brasileiros. Vamos juntos resgatar nossos sonhos, fortalecer nossos ideais e transformar nossa sociedade na sociedade do “ser”.

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